Imagem Folheados

Imagem Folheados
Programa de afiliados, esta precisando de grana extra? venha conhecer as melhores formas de ganhar na Internet...

segunda-feira, 2 de dezembro de 2013

A DESTRUIÇÃO DA AMAZONIA...


A DESTRUI��O
DA AMAZ�NIA

Uma �rea maior que a da Fran�a j� foi devastada
ou seriamente danificada na floresta
Tales Alvarenga
Foto: Araqu�m Alc�ntara
O fogo na mata (acima) e um p�r-do-sol po�tico sobre a �gua e a floresta: o Brasil nunca retomou o vigor destrutivo dos anos 80, quando o pa�s se tornou um p�ria mundial da ecologia, mas a floresta est� desaparecendo ao ritmo de um territ�rio como o de Sergipe a cada ano e meio. Por que e para qu�?
Foto: Pedro Martinelli
J� aconteceu uma vez. Da Mata Atl�ntica, que cobria a costa brasileira do Rio Grande do Sul at� o Cear�, s� restam hoje entre 5% e 8%, na estimativa mais otimista. Agora, � a Amaz�nia que est� sob ataque. Distante dos centros mais desenvolvidos, a Floresta Amaz�nica permaneceu quase intocada at� trinta anos atr�s. Nas tr�s �ltimas d�cadas, suas �rvores sofreram mais baixas do que nos quatro s�culos anteriores. N�o � um caso perdido. A Amaz�nia ainda est� sob ocupa��o humana das mais ralas e h� regi�es com a dimens�o de pa�ses europeus que continuam intactas. Ainda se pode viajar dez horas no Rio Negro, um dos maiores da Amaz�nia, sem cruzar com mais de quatro ou cinco barcos e sem ver movimenta��o nas margens, a n�o ser por uma d�zia de casebres solit�rios. Mas em regi�es economicamente mais atraentes, lugares que j� s�o ocupados por vilarejos e cidades, o ataque � floresta � brutal.
Desde o fim dos anos 60, quando come�ou essa cruzada de exterm�nio, uma capa vegetal com �rea maior que a da Fran�a j� desapareceu na Amaz�nia, pela a��o do fogo ou da motosserra. N�o h� registro de extin��o de esp�cies animais na regi�o. Mas as altera��es do meio ambiente, a ca�a predat�ria e a pesca centralizada nos peixes preferidos pela culin�ria local amea�am um zool�gico inteiro de desaparecer para sempre. Dezenas de mam�feros e r�pteis est�o na lista das esp�cies em risco. O peixe-boi, um mam�fero pac�fico que atinge at� 500 quilos com uma dieta de capim aqu�tico, est� ficando cada vez mais raro. On�a e macacos figuram na lista, bem como algumas esp�cies de jacar� e tartaruga. Em breve, o pirarucu, maior peixe amazonense, pode fazer parte das esp�cies amea�adas. Aos poucos, mas ininterruptamente, a Amaz�nia est� sendo comida pelas queimadas, pelo furor das serrarias, pela polui��o descontrolada dos garimpos e pela instala��o de fazendas de gado em v�rzeas que funcionam como ber��rios de peixes. O Brasil nunca retomou o vigor destrutivo dos anos 80, quando o pa�s se tornou um p�ria internacional da ecologia, mas atualmente a floresta est� desaparecendo ao ritmo aproximado de um territ�rio como o de Sergipe a cada ano e meio. A pergunta a se fazer �: por que e para qu�?
Foto: Pedro Martinelli
O encontro das �guas do Negro com o Solim�es: o vi�o da mata e a quantidade de �gua da bacia estimularam o mito da superabund�ncia amaz�nica
A Amaz�nia, a mais rica e a maior floresta tropical do mundo, um territ�rio �nico pela variedade indescrit�vel de sua flora e fauna, estende-se por nove pa�ses da Am�rica do Sul, dos quais o Brasil fica com a maior parte da mata, 60% do total. Na Amaz�nia brasileira, cortada de ponta a ponta pelo Rio Amazonas e empapada por mais de 1.000 de seus afluentes, caberiam catorze Alemanhas ou vinte Inglaterras. N�o h� outro lugar no mundo com tamanha variedade de esp�cies de p�ssaros, peixes e insetos. Numa �rea insignificante da mata tropical brasileira, uma extens�o que se cruza a p� em algumas horas, existe mais diversidade de plantas do que em toda a Europa. Quando um estrangeiro pensa no Brasil, � prov�vel que a primeira associa��o que fa�a, antes do futebol ou do samba, seja a floresta tropical. Quando um brasileiro pensa em si pr�prio em oposi��o a outros povos, tamb�m coloca a Amaz�nia como um dos mais irresist�veis s�mbolos de sua nacionalidade. Pois bem: como est� sendo tratada essa prov�ncia ecol�gica t�o admirada dentro e fora do Brasil? "� medida que o novo s�culo se aproxima, a Amaz�nia est� sendo transformada por desmatamento, crescimento urbano, minera��o, represas e uma explora��o generalizada de seus recursos naturais", l�-se num dos melhores trabalhos j� escritos sobre a regi�o, Enchentes da Fortuna, de dois pesquisadores americanos que l� viveram, Michael Goulding e Nigel Smith, e de um especialista do Banco Mundial, Dennis Mahar. Toda a destrui��o est� acontecendo em uma regi�o que Goulding considera "a maior celebra��o da diversidade do planeta".
O vi�o da floresta e a quantidade absurda de l�quido que por ela escorre, um quinto da �gua doce do planeta, estimularam a cren�a falsa de que a Amaz�nia � um celeiro inesgot�vel. Criou-se, sobre a Amaz�nia, o mito da superabund�ncia, que persiste desde a chegada dos primeiros europeus, h� quase 500 anos. A verdade � outra. O solo da Amaz�nia, argiloso ou arenoso em sua maior parte, � fraqu�ssimo. As �rvores se nutrem do pr�prio material org�nico que cai ao ch�o. Galhos, folhas, flores, frutos, vermes, insetos, fungos tudo isso se desprende das copas e se amontoa no solo. O material apodrece, desfaz-se na terra e � sugado pela teia superficial das ra�zes. O ch�o da Amaz�nia n�o � o reservat�rio em que as plantas v�o buscar os nutrientes, como acontece em outras regi�es. Na maior floresta do mundo, o solo � s� o lugar onde as �rvores se ap�iam fisicamente, nada mais. Retirada a capa verde, a terra n�o tem for�a para reerguer sozinha uma nova mata. A chuva tem um mecanismo parecido. A Amaz�nia s� existe porque chove muito na regi�o. Metade dessa chuva vem do Oceano Atl�ntico. A outra metade resulta da evapora��o do suor da floresta, um fen�meno que os especialistas chamam de evapotranspira��o. Cortando-se a cobertura vegetal, a chuva ser� reduzida pela metade e, nesse ponto, ningu�m sabe o que acontecer�. "A regi�o depende da manuten��o de sua cobertura florestal e, sem ela, se estabelecer� um desequil�brio, cujas conseq��ncias, no momento, s�o imprevis�veis", escreve Luiz Emydio de Mello Filho, professor de bot�nica da Universidade Federal do Rio de Janeiro, em um livro de fotos e artigos cient�ficos sobre a floresta, Amaz�nia Flora e Fauna. � s� a partir de uma determinada quantidade de desmatamento que a floresta perder� a capacidade de auto-regenera��o. Uma das coisas que os cientistas n�o sabem � em que lugar est� situado esse ponto sem volta. Enquanto isso, a motosserra vai limpando o terreno. O barulho que a serra faz na floresta � muito alto. Mas, entre as autoridades respons�veis pelo meio ambiente, parece que todo mundo est� usando protetores de ouvido.
Dois fen�menos aparentemente contradit�rios convivem na biologia da Amaz�nia. L� existe um n�mero insuper�vel de esp�cies, mas relativamente poucos exemplares dentro de cada uma. Isso vale para �rvores ou peixes, indiferentemente. Num espa�o equivalente a um quarteir�o � dif�cil encontrar tr�s �rvores da mesma fam�lia. Em raz�o da grande dispers�o das �rvores, os seringueiros precisam andar quil�metros e quil�metros na mata. Cada seringueira fica a 100, 200 metros uma da outra. Nos rios, o fen�meno se repete. O observador pouco familiarizado com a Amaz�nia tende a desconfiar dos bi�logos que alertam para o risco que estariam correndo alguns peixes mais valorizados pelos consumidores da regi�o. Estabelece-se, para esse observador, uma esp�cie de "paradoxo do atum". Se o atum � cada vez mais consumido no mundo inteiro e ningu�m diz que essa esp�cie corre risco de extin��o, raciocina ele, por que ent�o as popula��es de pirarucu ou tambaqui, consumidas apenas pelos moradores da Amaz�nia, estariam sob qualquer tipo de amea�a?
Existe, na Amaz�nia, uma variedade incompar�vel de peixes, provavelmente umas 3.000 esp�cies no total, quinze vezes mais do que em todos os rios da Europa, mas o n�mero de pirarucus ou de tambaquis representa uma fra��o da quantidade a que chegam certos tipos de peixes mar�timos. Na base da cadeia alimentar dos oceanos h� mais nutrientes do que nos rios, para come�ar. E esses nutrientes s�o pouco afetados pela interven��o do homem. Nos rios amaz�nicos, ao contr�rio, o homem j� tem um efeito negativo vis�vel sobre a fonte b�sica de alimentos, toneladas de frutos e sementes que as enchentes v�o buscar nas florestas alag�veis durante os ciclos da chuva. Entre Manaus e o Rio Xingu, uma extens�o de 2.000 quil�metros, as v�rzeas do Rio Amazonas est�o se transformando rapidamente em pastagens para o gado. Desmata-se tamb�m nas �reas de inunda��o para tirar madeira. Boiando na corrente, as toras s�o facilmente transportadas at� a serraria mais pr�xima.
A experi�ncia mundial tem demonstrado que a devasta��o de �reas verdes ocorre com furor redobrado em regi�es pobres e que � muito dif�cil proteger o verde deixando desprotegidos os habitantes. O sujeito que pega seu caminh�o velho no sul do Par� e entra na mata para surrupiar uma tora e vender na serraria mais pr�xima est� numa atividade de subsist�ncia. � mais f�cil transform�-lo num membro do Rotary Club do que num soldado da natureza. Em v�rias oportunidades, o governo tentou encontrar solu��es para a pobreza end�mica da regi�o amaz�nica e sempre optou por solu��es ora simplistas, ora megaloman�acas, que, no final das contas, acabaram produzindo tipos como o derrubador de �rvores. Bras�lia perturbou popula��es ind�genas tirando-as de seus territ�rios a pretexto de fazer a Amaz�nia progredir, rasgou estradas in�teis no fundo da mata, atraiu sem-terra do Nordeste para desmatar e plantar na floresta, incentivou a cria��o de gado numa regi�o que n�o se presta a isso. Cometeu todos os erros imagin�veis nas circunst�ncias e nunca quis enxergar o �bvio.
O turismo ecol�gico rende 260 bilh�es de d�lares por ano para os pa�ses que o exploram. A Amaz�nia, o mais poderoso complexo da ecologia mundial, leva apenas 0,01% dessa verba. Alguma coisa est� errada e n�o � com o caboclo que est� pondo fogo numa capoeira para plantar mandioca na margem do Rio Solim�es. Os governos dos Estados do Par� e do Amazonas estendem tapetes vermelhos para atrair os madeireiros malaios, que t�m Ph.D. no manejo da motosserra, sob o olhar contemplativo do governo federal. Com tanto entusiasmo oficial envolvido, fica-se com a impress�o de que, pelo menos em termos econ�micos, a Amaz�nia est� fazendo um grande neg�cio com a derrubada de suas �rvores, quando na verdade todo o com�rcio de madeira nobre no mundo equivale a menos da metade do que os americanos apuram sozinhos apenas com a pesca esportiva. A Amaz�nia tem uma voca��o �bvia para atividades como o turismo ecol�gico e a pesca controlada. A minera��o, com sua vantagem de derrubar pouca mata e render alto dividendo, � tamb�m uma voca��o indiscut�vel. Tradicionalmente, o Brasil desconfia de grandes projetos nesse campo quando tocados pela iniciativa privada, sobretudo se h� estrangeiros por tr�s. Enquanto isso, alguma for�a misteriosa faz com que os pol�ticos da regi�o se inclinem pelos madeireiros de olhos puxados.
H� incentivos oficiais para todo tipo de atividade predat�ria, e o que acaba dando certo � aquilo que n�o estava nos planos dos burocratas das capitais. Isso aconteceu com a extra��o da borracha. Nos primeiros anos deste s�culo, pico do com�rcio da borracha na regi�o, Manaus tinha renda per capita superior � do sul do Brasil. Os bar�es da seringueira, imitando parisienses, tomavam champanhe e vestiam roupas importadas da Fran�a. A vida em Manaus, segundo se dizia com orgulho por l�, era quatro vezes mais cara do que a de Nova York. Um hotel da cidade tinha a reputa��o de ser o maior do mundo e o teatro, deslumbrante para os padr�es brasileiros na �poca, apresentava �peras com companhias europ�ias. A festa durou at� o momento em que o primeiro seringal da Mal�sia come�asse a produzir l�tex por um sexto do pre�o vigente em Manaus.
No caso da borracha, n�o foi aplicado nenhum plano artificial de conquista da floresta. Com poucas exce��es, sempre que isso aconteceu os resultados foram med�ocres, �s vezes pat�ticos. O pioneiro dos autom�veis, o americano Henry Ford, derrubou a mata para plantar seringais �s margens do Tapaj�s, nos anos 30, e deixou uma fortuna enterrada no solo amaz�nico. Na floresta, as seringueiras ficam distantes umas das outras, no meio da mata. Isso evita a dispers�o de pragas. Ford plantou seringueiras como quem distribui mudas de caf� numa fazenda do Paran�. Deu praga e a planta��o faliu. Outro magnata americano, Daniel Ludwig, comprou a maior propriedade rural do mundo no Amap�, nos anos 60, e l� perdeu 1 bilh�o de d�lares no sonho de fabricar polpa de papel, criar gado e plantar arroz.
Depois que o presidente Juscelino Kubitschek declarou que seu governo iria "arrombar a selva", ao iniciar as obras da Rodovia Bel�m--Bras�lia, em 1958, a receita da fanfarronice amaz�nica entrou na moda. Uma das fixa��es da ditadura militar nos anos 60 e 70 era integrar a Amaz�nia ao resto do Brasil a toque de corneta. Os militares temiam duas coisas. Uma delas, que o vazio da floresta fosse ocupado por invasores dos pa�ses vizinhos. A outra, que acabasse sendo reivindicado pelas na��es ricas para acomodar os pobres que sobravam em outros lugares. Afinal, e se a ONU come�asse a for�ar a m�o para que o Brasil aceitasse 300 milh�es de chineses na Amaz�nia, onde � que iria parar a soberania brasileira sobre a floresta? Esse era o sentimento que predominava nos quart�is durante aqueles anos. A ordem em Bras�lia era colonizar a Amaz�nia de qualquer maneira, o mais depressa poss�vel, custasse o que custasse. "Integrar para n�o entregar", conforme dizia um dos slogans da �poca. Nunca o desmatamento foi realizado com tanto esmero e idealismo.
Num del�rio de grandeza, o governo resolveu cortar a selva inteira com uma rodovia, a Transamaz�nica, e instalar milh�es de colonos �s suas margens. A Transamaz�nica � hoje um caminho lamacento e semi-abandonado. Os colonos descobriram logo que o terreno de suas ro�as n�o dava mais do que duas ou tr�s colheitas depois da queimada. Tentando uma corre��o de rota, Bras�lia trocou os agricultores humildes por empresas gigantescas que deveriam, segundo o plano dos estrategistas de gabinete, transformar a Amaz�nia num dos grandes exportadores mundiais de carne. Atra�das por incentivos fiscais e financiamentos, empresas sem nenhuma tradi��o na agropecu�ria, como a Volkswagen, a Varig e a companhia de seguros Atl�ntica Boavista, numa lista de 300, aceitaram o convite oficial e foram derrubar �rvores no solo fr�gil da Amaz�nia a fim de plantar capim para os futuros rebanhos. Mas nem mesmo o capim se desenvolveu no ch�o fraco da regi�o. Do plano, a �nica parte que deu certo foi a derrubada da mata.
Depois dessa s�rie de malogros, a Amaz�nia ainda continua sendo vista como uma fruta que deve ser espremida a qualquer pre�o. O Brasil, hoje com o segundo maior rebanho bovino do mundo, 170 milh�es de cabe�as, precisaria de uma �rea n�o muito maior do que a de Minas Gerais para multiplicar esse plantel por cinco, tornando-se uma pot�ncia imbat�vel no ramo. Bastaria aplicar t�cnicas que hoje s�o corriqueiras na regi�o do Tri�ngulo Mineiro. Mas h� pecuaristas desmatando a floresta tropical amaz�nica para engordar gado por l�. Na agricultura, acontece a mesma coisa. O Brasil j� tem uma safra enorme, de 77 milh�es de toneladas de gr�os, mas poderia colher cinco vezes mais num peda�o de terra como o do Estado da Bahia, desde que aplicasse padr�es europeus de plantio e colheita. Em vez disso, a agricultura avan�a nas bordas da floresta, deixando atr�s um campo semeado de toras abatidas. Numa regi�o que tem 20.000 quil�metros de rios naveg�veis, constroem-se rodovias de pouca utilidade como a Perimetral Norte, que a floresta j� comeu de volta. N�o � exatamente a parte j� destru�da ou seriamente danificada da floresta que mais preocupa. Essa parte, no fim das contas, j� est� mesmo perdida. O que assusta � o ritmo imperturb�vel que o desmatamento adquiriu. Foi assim com a Mata Atl�ntica

Nenhum comentário: